Como passar e ser em possado em um ano

Alguns dias atrás estava dando uma olhada nas notícias do portal G1 quando me deparei com essa chamada no mínimo “espetaculosa”:

Aprovado em 1º lugar para diplomata estudou por oito meses; veja dicas

Instituto Rio Branco abriu 30 vagas para o cargo, cujo salário é R$ 13,6 mil. Thomaz Napoleão, que passou em seu 1º concurso, fala sobre a carreira. (link)

Na hora pensei … coitado de um sem número de concurseiros que somente por conta dessa chamada serão classificados de incompetentes, preguiçosos, vagabundos e por aí vai por familiares, parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos que não se deram ao trabalho de ler a matéria inteira.

Logo no começo do artigo em questão (recomendo a leitura) lemos:

“Thomaz Alexandre Mayer Napoleão, de 29 anos, se tornou diplomata quando tinha apenas 25 anos. Ele passou em 1º lugar no concurso do Instituto Rio Branco em 2009, feito obtido na primeira tentativa para ingressar no órgão. Além disso, era seu primeiro concurso público. Foram oito meses de preparação e cerca de R$ 5 mil investidos em cursinho preparatório e material de estudo.”

Esse tipo de declaração fora de contexto serve apenas para fazer o pobre concurseiros ser visto e se ver como um grandiosíssimo incapaz, afinal de contas o rapaz da matéria passounoconcurso para o disputadíssimo Instituto do Rio Branco tão fácil. E a matéria vai mais além.

“Napoleão conta que leu, total ou parcialmente, de 100 a 120 livros para o concurso. Mas durante a preparação, ele não deixou o lazer de lado.”

Nessa altura da leitura da matéria já tem gente pensando na melhor forma de linchar o concurseiro vagabundo que conhece … e concurseiros tentando decidir como irão se suicidar!

Mas nessa mesma matéria há informações muitíssimo importante que contextualiza a façanha do rapaz. Vejamos.

“O diplomata fala inglês, francês, russo e espanhol. As fluências em inglês e francês vieram da adolescência, as outras, mais tarde, segundo ele.”

“Ao ser questionado sobre o “segredo” do seu sucesso, ele cita quatro fatores. Primeiro, sua formação acadêmica e experiência profissional anteriores, que facilitaram a preparação. Em segundo lugar, o fato de ser “um leitor compulsivo e um estudante entusiasmado”.”

Aí que está o “xis” da questão … o passado educacional desse servidor público!

Uma coisa é alguém começar a estudar para concursos públicos contando com uma bagagem educacional de respeito. Isso “queima” muitas etapas na preparação do concurseiro. Ele já sabe estudar, ele já sabe muita coisa de muitas das matérias a serem estudadas, ele já domina grande parte do que será cobrado em prova.

Coisa completamente diferente é começar a estudar para concursos públicos contando com uma minguada bagagem educacional, quando antes de tudo é preciso aprender a como estudar, por exemplo.

Jornalistas apreciam florear demais as manchetes, isso é um fato histórico comprovado. Quem lê apenas as chamadas de matérias assim ou somente as primeiras linhas acabam tendo uma ideia errada das coisas. É fato que há gente que passa no primeiro concurso que presta estudando apenas alguns meses. Quem consegue fazer isso?

- Quem tem uma capacidade prodigiosa e além do normal de aprendizado e memorização;

- Quem tem bagagem educacional acima da média;

- Quem presta concursos muito, mas muito fáceis de passar.

RESUMO DA ÓPERA - Se você não se enquadra em uma das três situações acima, então não tem porque se sentir mal porque algum raro vivente se enquadra e acaba saindo em manchetes bombásticas como a que deu origem a esse artigo. Saiba que 99% dos concurseiros têm de estudar e muito para merecerem ser empossados servidores públicos.

CHARLES DIAS é o Concurseiro Solitário.

fonte: blog concurseiro solitario