Rogerio Neiva
Rogerio Neiva é juiz do trabalho desde 2002. Além disso, é psicopedagogo e possui pós-graduação em administração financeira. Atua como professor de cursos preparatórios.
E para tanto, primeiramente precisamos entender as espécies de memória, ou seja, como estas podem ser classificadas.
Quanto ao objeto memorizado, temos as memórias psicomotoras e as semânticas. As semânticas são aquelas que não contam com natureza psicomotora e se dividem em conceituais, as quais correspondem aos conceitos e informações que aprendemos, bem como as episódicas. Estas (episódicas), por sua vez, consistem naquelas que contam com um caráter factual, ou seja, uma experiência real e vivenciada (IZQUIERDO, Ivan. "Memória". Porto Alegre: Artmed, 2002, págs. 16/17).
Quando pensamos na preparação para o concurso, geralmente trabalhamos e consideramos apenas a formação de memórias conceituais. Porém, as memórias episódicas também podem ser de grande utilidade, se trabalhadas de forma estratégica, principalmente no processo de evocação, isto é, ao relembrar uma informação que precisamos resgatar, inclusive nas provas.
Muitas vezes o resgate da informação ou conceito é viabilizado exatamente a partir da experiência real vivenciada no contato que tivemos com este mesmo conceito. Ou mesmo envolvendo uma situação real na qual este conceito foi aplicado.
Vou exemplificar com uma experiência banal que vivenciei, muito útil para a compreensão da ideia.
Eu estava tendo certa dificuldade para memorizar determinada palavra em inglês. Apesar de ter tido contato vária vezes com esta mesma palavra, não conseguia lembrar. Um determinado dia, numa determinada ocasião específica em que me encontrava de férias e em viagem, estava lendo um livro em inglês, com a minha esposa ao lado. E apareceu a tal palavra (na verdade era um verbo). Naquele momento, me lembro até de uma terceira pessoa que se aproximaou para nos abordar, a qual saiu logo em seguida. Daí, como não me lembrava do significado da palavra e estava sem dicionário, indaguei minha esposa se ela sabia, a qual sabia e me esclareceu.
A partir daquela experiência, sempre que vou evocar aquela palavra, a mencionada situação episódica me vem à mente, antes mesmo da tomada de consciência da evocação do significado da palavra, a qual vem logo em seguida.
E o que ocorreu nesta experiência e o que ocorre quando me lembro da palavra da mencionada maneira? Resposta: eu estou resgatando uma memória conceitual a partir de uma memória episódica!
O neurocientista Antonio Damásio, uma das maiores autoridades da neurociência na atualidade, coloca num dos seus livros um relato sobre uma situação na qual estava em casa e, de repente, se lembrou de um antigo amigo, bem como de experiências vivenciadas com este amigo. Daí começou a estudar e analisar a causa daquela evocação espontânea. Após algumas investigações, constatou que havia feito um movimento ao andar semelhante à forma como o seu amigo andava. ("E o cérebro criou o homem". São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 168).
Isto é, uma memória psicomotora, inclusive de forma inconsciente, levou à evocação de uma memória episódica.
E como estas idéias e estratégias podem ajudar nos estudos e nas provas de concursos públicos?
De várias maneiras! E desde já comece a pensar nisto.
Uma sugestão fundamental é que, por exemplo, ao estar fazendo uma prova e precisar evocar um conceito que não consegue lembrar, tente lembrar da experiência ou situação na qual teve contato com este conceito. Tal como no caso da experiência que narrei.
Além disto, quando tomar contato com novos conceitos, ou seja, ao estudar individualmente ou assistir uma aula, fique atento às circunstâncias, pois a evocação destas circunstancias (memória episódica) pode ajudar na evocação do conceito ou informação exigidos no momento da prova (memória conceitual).
Enfim, tende usar as memórias episódicas e faça delas uma grande aliada!
fonte: http://concursos.correioweb.com.br/htmls2/rogerio_neiva/rogerio_neiva.shtml
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