Contagem regressiva

 Por Dad Squarisi (Dicas de Português)


Recado
"A melhor maneira de manter a palavra é nunca dá-la."

Napoleão Bonaparte

Contagem regressiva
Ufa! No domingo começa 2012. A imprensa adotou a contagem regressiva. Recorre, então, a duas estruturas. Ambas verdadeiras ciladas.

Uma: o verbo faltar. Quando o sujeito vem posposto, não dá outra. Pisa-se a concordância. Aparecem horrores como "falta oito, falta cinco, falta quatro dias" e por aí vai. Vale lembrar: o dissílabo não goza de privilégios. Concorda com o sujeito: faltam 5 dias (5 dias faltam), faltam 10 dias (10 dias faltam), falta menos de uma semana (menos de uma semana falta).

A outra: a preposição a. Na contagem de tempo, o verbo haver indica passado (cheguei há 10 minutos), a preposição a, futuro. O entusiasmo de repórteres se encarrega de trocar as bolas. Nas páginas de jornais e revistas, lá está "há 4 dias do começo de 2012" e assemelhados. É a receita do cruz-credo. Melhor fazer as pazes com a língua: Estamos a 4 dias do novo ano. Que venha. Champanhe e fogos o esperam.

Por falar em champanhe...
Chova ou brilhem estrelas no céu sem nuvens, uma coisa é certa. A virada do ano merece brinde. Majestoso, o borbulhante pede passagem com banda de música e tapete vermelho. Trata-se do vinho fabricado na região de Champanhe, na França. Daí o nome. Como é vinho, ele prefere (e quanto!) o gênero masculino: O champanhe é a bebida do réveillon. Não precisa dizer -- champanhe é sempre francês. Se não é francês, champanhe não é. É espumante.

A virada
Que chique! A virada do ano recebe nome francês. É réveillon. A palavra mantém a grafia original. Escreve-se assim -- sem tirar nem pôr.

Deste jeitinho
Sabia? Réveillon e ano-novo são nomes comuns. Escrevem-se com letra mixuruca da silva. Olho vivo! Ano-novo tem hífen: Feliz ano-novo pra você.

Etiqueta
Palavras ligadas à etiqueta em geral vêm do francês. Nos convites, por exemplo, aparece o quarteto RSVP. Na língua de Voltaire e Victor Hugo, as quatro letrinhas querem dizer répondez s´il vous plaît. Na nossa, favor confirmar a presença.

Asa nos pés
Entre os festejos do ano-novo, uma se destaca. É a corrida de São Silvestre. Atletas de Europa, França e Bahia batem ponto em São Paulo. O evento, além de dar asas às pernas, propicia uma dica de português -- a origem curiosa da palavra maratona.

Corria o ano de 490 a.C. O poderoso exército persa invadiu Maratona. Os moradores da aldeia grega não tinham forças pra enfrentar o inimigo. Mas não se entregaram. Mandaram Filípedes (ou Fidípedes) a Atenas buscar reforços. Ele correu 42km em um dia. Conseguiu a adesão de 10 mil homens. Correu outros 42km para anunciar a boa-nova. Na volta, gastou o mesmo tempo.

Os filhos de Aristóteles e Platão ganharam a guerra. Em 1896, veio o reconhecimento. Os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna introduziram a maratona como modalidade esportiva. Em homenagem a Filípedes, o atleta tem de correr 42km. E não precisa voltar.

Revezamento
Por que revezamento se escreve com z? Porque é derivado de vez. O sufixo re- quer dizer repetir. É o mesmo que aparece em reler, rever, reatar. Conclusão: revezamento é a repetição da vez.

Ser sedutor é...
Surpreender o outro. O presidente de um banco comunicou ao colega que mudara a sede da agência do centro de São Paulo para Paraty. A resposta: "Que inveja! Quem me dera estar em seu lugar!"

Leitor pergunta
Tenho muitas marcas. Uma delas: a curiosidade. Leio muito, converso muito, questiono muito. Outro dia, uma dúvida o assaltou. Por que se diz "madre superiora", mas "escola superior"? Madre e escola são nomes femininos. Mas o segundo adjetivo é masculino.

Paulo Marques, Natal

O superiora, Paulo, joga claro. Refere-se a madre. O superior brinca de esconde-esconde. Oculta entre o nome e o adjetivo, está a locução "de nível": escola (de nível) superior, instituição (de nível) superior, mercadoria (de nível) superior.

Moral da história: quem procura acha.



 

Dicas da Dad

Dad Squarisi é editora de Opinião do Jornal Correio Braziliense e comentarista da TV Brasília. Além disso, a profissional participa de bancas examinadoras de concursos e possui várias obras sobre Português.

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